A poucos dias do
pontapé de saída leonino para a temporada 2014/2015 em Coimbra frente à
Académica considero ser pertinente uma reflexão acerca do novo Sporting de
Marco Silva.
Após uma época
em que o Sporting conseguiu o apuramento direto para a fase de grupos da Liga
dos Campeões e se exibiu a um nível que superou em larga medida as expectativas
iniciais, parte para a nova temporada com a moral em alta e uma
responsabilidade acrescida. Os responsáveis do clube já assumiram publicamente
a candidatura ao título nacional e é latente no universo verde e branco o
desejo de uma boa prestação europeia bem como da conquista de títulos.
Para fazer face
ao aumento da competição e do número de jogos a disputar, desde cedo os “leões”
se movimentaram no mercado de transferências no sentido de dotar o plantel a
nível de quantidade e qualidade. O objetivo passará por elevar os níveis de
competitividade interna tendo, para o efeito, um mínimo de dois jogadores por
posição nunca olvidando a Academia de Alcochete e os talentos que produz,
alguns deles em fase de maturação e desenvolvimento na equipa B.
A pré-temporada
do Sporting terminou esta semana. Foi estruturada de acordo com as necessidades
da equipa, enfrentando adversários com diferentes graus de dificuldade, o que permitiu
a Marco Silva observar um conjunto diferenciado de jogadores, fazer as suas
experiências, de modo a perceber com quem poderá contar para “atacar” a nova
temporada. O saldo foi positivo com 7 vitórias, 2 empates e 2 derrotas em 11
jogos realizados, durante os quais o clube repetiu as conquistas da Taça de
Honra da Associação de Futebol de Lisboa e do Troféu Cinco Violinos (na
marcação de grandes penalidades após um empate a dois golos no período
regulamentar), venceu o Troféu Pauleta e terminou no 3º lugar no prestigiado
Troféu Teresa Herrera.
A nível
individual, um dos destaques positivos, na minha ótica, foi André Carrillo. À
entrada para a sua quarta temporada de leão ao peito o jovem peruano parece
finalmente assumir-se como o desiquilibrador da equipa. A sua verticalidade,
capacidade de drible, repentismo, poder de aceleração e imprevisibilidade podem
fazer dele um dos principais municiadores do jogo ofensivo da equipa. O que
mais me chamou a atenção foi o facto de ele estar mais solidário e
voluntarioso, joga mais para a equipa e parece-me mais maduro. O potencial esse
esteve sempre lá, faltando apenas melhorar os seus índices de jogo coletivo e
poder de decisão. O desenrolar da temporada irá, certamente permitir averiguar
se esta será finalmente a época de afirmação do virtuoso extremo. Não podia
deixar de referir, igualmente, o avançado japonês Junya Tanaka. Chegou a
Alvalade proveniente do Kashiwa Reysol e está a viver a sua primeira
experiência fora do Japão. Concorrente de Montero e Slimani, aproveitou a ausência
do argelino, que se encontrava de férias após a sua participação no Mundial do
Brasil, para somar minutos e mostrar serviço. Autor de um hat-trick frente ao RKSV Achilles’29, fez também balançar as redes
do Ultrecht e Ittihad de Alexandria. Além do faro pelo golo demonstrou
determinação e mobilidade. Um fenómeno de popularidade, despertou a curiosidade
dos adeptos em geral e, inclusive, foi motivo de conversa no seu país natal,
tendo uma claque personalizada.
No entanto nem
tudo foi positivo, como aliás é natural na pré-temporada. Na minha opinião o
principal ponto negativo prendeu-se com os níveis de concentração da equipa.
Lembro-me dos jogos contra a Lázio e o Ittihad de Alexandria, nos quais o
Sporting deixou fugir a vitória já em período de compensação. O quarteto
defensivo também me suscita alguma apreensão. Dier foi vendido ao Tottenham,
Rojo está a ser muito cobiçado e poderá abandonar Alvalade até ao fecho do
mercado. Maurício é o patrão da defesa. Contudo terá que moderar a sua
agressividade. Por vezes exagera nas ações faltosas, o que poderá prejudicar a
equipa, e revela pontualmente alguns lapsos ao nível do posicionamento, que
deverão ser corrigidos. Paulo Oliveira, reforço proveniente do Vitória SC, está
ainda num período de adaptação a uma nova realidade e a uma nova exigência,
muito maior. Rabia chegou do Al-Ahli, não sei se para lutar por uma vaga no
eixo da defesa ou para concorrer com William e Rosell, precavendo uma eventual
saída do internacional português. A sua polivalência será uma vantagem, contudo
não se poderá descurar o período de adaptação visto que este internacional
egípcio irá cumprir a sua primeira experiência no futebol europeu. Jefferson
apresentou-se em alguns jogos desta pré-temporada algo acomodado em virtude da
falta de concorrência. A chegada de Jonathan Silva poderá “espicaçar” o
brasileiro. André Geraldes, que dispôs de várias oportunidades nesta
pré-temporada, revelou não estar preparado para atuar num clube da dimensão do
Sporting. Revelou muitas fragilidades a defender, foi pouco afoito no ataque e
inclusive foi perdendo o lugar para Ricardo Esgaio nos últimos encontros. A meu
ver Geraldes não será concorrente de Cédric, podendo Esgaio aproveitar as
evidentes debilidades do colega para finalmente cimentar um lugar no plantel
principal do Sporting. Todavia não é só a defesa leonina que merece um reparo.
A nível de extremos os “leões” parecem igualmente ter evidentes dificuldades.
Carrillo, já citado, e Mané parecem-me ser exceções. Capel é claramente, nesta
altura, um jogador que pouco pode acrescentar para além de ganhar muitas
faltas. Tem uma fraca visão de jogo, é inconsequente nas suas iniciativas,
perde-se em fintas e quando o esférico lhe chega parece-me que o jogo para.
Admiro a sua entrega ao jogo e a sua atitude, é um ótimo profissional mas o seu
jogo de cabeça baixa já é sobejamente conhecido pelos adversários. Se a tudo
isto se acrescentar o seu avultado salário, julgo que a melhor solução passará
por uma transferência do espanhol. Shikabala é outro problema. Muito
individualista privilegia sempre mais uma finta ou um embelezamento de uma
jogada individual ao passe a um companheiro de equipa. O egípcio é possuidor de
uma excelente qualidade técnica. Contudo, se não é capaz de a colocar ao
serviço do coletivo, esta de pouco ou nada serve. O seu carácter egocêntrico
não abona a seu favor, sendo notório o seu desagrado nos momentos em que é
substituído. Finalmente, Heldon tarda em demonstrar os predicados que levaram o
Sporting a contratá-lo ao Marítimo em janeiro passado. Na frente de ataque
Montero continua sem marcar revelando-se muito perdulário e com falta de
confiança.
Em suma, o
Sporting parte para 2014/2015 com um plantel que ainda apresenta algumas
lacunas e que estará sempre dependente do mercado de transferências e de
eventuais saídas de elementos chave. Até ao momento a manutenção da base da
equipa que foi orientada por Leonardo Jardim é um ponto a favor. Porém, para se
ser campeão falta algo mais e os reforços adquiridos, na sua maioria jovens, a
baixo custo, para posteriormente potenciar e vender não são soluções para o
imediato. Fortalecem, isso sim, o banco de suplentes (algo que faltou na
temporada passada). Penso que o meio campo é o setor mais equilibrado com
William e Rosell, Adrien e Slavchev, André Martins e João Mário. Continua a
faltar um extremo que entre “de caras” no 11 inicial e na eventualidade de
Rojo, William e/ou Slimani saírem o Sporting terá forçosamente que reforçar a
sua equipa-tipo.
Penso que com
esta matéria-prima não será fácil fazer melhor que na temporada anterior, fruto
do aumento do número de jogos e do cansaço acumulado. Porém, Marco Silva e seus
pares já nos habituaram a retirar o máximo potencial dos atletas à sua
disposição e alcançarem grandes feitos apesar de disporem de um orçamento menos
avultado que os seus mais diretos adversários. O seu brilhante trajeto no
Estoril é prova disso mesmo. Conseguiu sempre enfrentar as dificuldades,
reconstruir equipas e superar as expectativas. Este será um novo e aliciante
desafio.
Texto: Adolfo Serrão
Seja o primeiro a comentar